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Pico dos Horizontes e a imponente Serra do Caraça, Catas Altas, MG

O Pico Catas Altas, também conhecido como Pico dos Horizontes ou Pico Agulhinha, está situado a 1.830 metros de altitude na Serra do Caraça, dentro dos limites da Reserva Particular do Patrimônio Natural Serra do Caraça (IDESISEMA, 2024), no município de Catas Altas. Esta trilha possui cerca de 7 km de extensão, com duração aproximada de 5 horas de caminhada, apresentando subidas e descidas íngremes com ganho de elevação de 1.118 m e uma paisagem de tirar o fôlego até o topo do pico.


Jessica Maia (2018)

Te avistei sete anos atrás, lá do alto do Sol. Te admirei há duas semanas. Te subi duas semanas depois e o tempo não escala; o tempo caminha, o tempo se deixa e também se mapeia.

Morro para os que se apossam

Morro quando o aclive é intenso

Nesse caso, morro de gosto

Mar aqui é morro

Mar aqui é nuvens baixas

Vista de cima

Vistas do topo


O Pico dos Horizontes é marcante e pode ser avistado de vários ângulos próximos à cidade de Catas Altas, além de ser visível também a partir do Pico do Sol, ponto culminante da Serra do Caraça. O Pico dos Horizontes está situado nas coordenadas de latitude Sul -20.088423504421083 e longitude Oeste -43.44003943741811, a 1.830 m de altitude, dentro dos limites do município de Catas Altas, em Minas Gerais.


A trilha para o Pico dos Horizontes passa por paisagens exuberantes. É de tirar o fôlego literalmente, tanto pela bela vista dos horizontes à frente quanto pelo seu nível técnico para sua ascensão. São cerca de 7 km de trilha até o topo do Pico dos Horizontes, caminhando entre estradas de terra, afloramentos rochosos, vales e cristas.


Obs.: Altitude de 1.810 m conforme carta topográfica do IBGE (1967). O ponto culminante marcado através do GNSS Garmin ETrex 30, aferiu-se 1.832 m de altitude. Imagem: Google Earth editada (2024).


A trilha até o Pico dos Horizontes inicia-se no centro do município de Catas Altas, a partir da praça central, seguindo pelo acesso da Rua do Rosário e virando à esquerda na rua Maquiné, até atravessar a linha férrea para acessar a estrada de terra. Este trecho é bastante tranquilo e ainda oferece grande contato com a área urbana. Ao longo de toda a caminhada, o pico pode ser avistado à frente, o que pode enganar um pouco devido à distância aparente.


Ao fundo, vista para o Pico dos Horizontes, Serra do Caraça,Vista do Santuário do Caraça.

Fotografia: Jessica Maia (2019).


Após chegar à estrada de terra e caminhar na direção oposta à cachoeira da Maquiné, deve-se passar sob a linha férrea para atravessar para o outro lado da estrada e dar continuidade à trilha em direção ao pico. Até o topo, haverá um ganho de elevação de mais de mil metros de altitude.



Passagem por de baixo da linha férrea para acessar a continuidade da trilha que segue até o pico.

Fotografia: Jessica Maia (2021)


A trilha em mata fechada começa a partir de 1,3 km de estrada e se estende até as proximidades da base do maciço, onde começam os pontos de afloramentos rochosos e lajeados inclinados. Há alguns pontos de água ao longo do caminho, como o Cânion do Meio, mas dependendo da época, alguns podem estar secos.



O melhor ponto de parada com água é a cachoeira do meio, no Ribeirão Maquiné - esse ribeirão nasce a 1.920m de altitude e na encosta do Inficionado, é bastante declivoso até a confluência com o Córrego Cascatinha a 1250m. Este ponto é ideal para abastecer os recipientes de água, pois depois dele não há mais pontos de água abundante no caminho, e a subida se torna pesada até o topo do pico.


Após um mirante chamado Pedra da Galinha, de onde podemos avistar o município de Catas Altas, o Morro da Água Quente e as cidades ao redor, descemos um lance e chegamos a uma lapa, um abrigo natural, ótimo lugar para descansar.



A uma altitude de 1.636 m, após passar por vários lajedos inclinados onde requer subidas com o apoio das mãos, literalemente subindo igual calangos rsrsr, encontramos um trecho de boulders em rocha. Há uma rocha fraturada onde se forma uma fenda, com cerca de 8 m de altura. Este ponto requer mais atenção ao subir e ao descer no retorno. Após este trecho, a subida até o pico se torna muito mais tranquila.





Este trecho apresenta uma declividade quase nula e rochas bem expostas. Aqui, é necessária uma pequena escalada e bom preparo físico, além de ausência de medo de altura.


À medida que ganhamos elevação, a paisagem vai se tornando cada vez mais bonita, com características de campo de altitude, afloramentos rochosos, características dos quartizitos, líquens nas rochas, fauna e flora. Cada detalhe alegra os olhos até dos menos atentos.



Fratura na rocha de cerca de 8 m de altura para subida.

Fotografia: Jessica Maia (2021)


O topo do Pico dos Horizontes é verdadeiramente exuberante. Ao final da tarde, as nuvens vistas de cima parecem ondas do mar sob o município de Catas Altas.


Os morros aflorados, que se estendem até onde a vista alcança, proporcionam a sensação de estarmos muito distantes da civilização, isolados de tudo.


As tonalidades das rochas desprovidas de vegetação contrastam com a densa mata de galeria em sua base, caracterizando bem a Serra do Caraça. Lírios tigres encrustados nas rochas dividem espaço com as orquídeas entre as fendas.


Vale muito a pena essa subida, apesar da dificuldade técnica. É um paraíso pertinho de Belo Horizonte. Não precisamos ir longe para admirar uma beleza sem igual e encontrar a paz.


Brunner e Wesley. Wesley lembrando sobre a passagem no Vale do Rio Quebra-ossos, em uma das lendárias travessias Catas Altas - Caraça. Fotografia: Jessica Maia (2019).


Por fim, a chegada ao topo do Pico dos Horizontes nos entrega uma vista de tirar o folêgo. Pode-se avistar grande parte da Serra do Caraça, seus vales, sua densa mata de galeria e seus outros picos. A vista mais supreendente é o Pico do Sol, bem de frente encarando o Pico dos Horizontes e te chamando "agora será a minha vez".



Dados técnicos


Difícil 1.830 m 7 km






Dica do Levar:


Mochila de ataque (pequena), água (suficiente para 5h de consumo), lanche de trilha (sanduíche, frutas, cereais, sucos, etc.), protetor para cabeça (boné, lenço ou chapéu), protetor solar, roupa leve, agasalho, tênis confortável (testado e aprovado), celular com bateria carregada. Em caso de chuva: levar capa de chuva para você e outro para a mochila, e guardar seus itens em sacos plásticos dentro da mochila. Evitar levar guarda-chuva nas mãos para não deixar as mesmas ocupadas enquanto caminha se equilibrando, nas descidas.


Devemos levar em conta que, embora sejam somente 6 km de extensão é em terreno acidentado e de altura considerável, já que estamos falando de uma serra enorme e que o trajeto até Pico é difícil. Nesse, sentido é necessário estar preparado para essa trilha com um bom planejamento e preparo físico.



Aspectos geográficos e naturais da Serra do Caraça


Existem duas explicações para o nome da Serra do Caraça. A primeira seria o formato de um rosto humano na Serra do Espinhaço: é explicação corrente no tempo do Colégio e comentada por Dom Pedro II, em seu diário (11-13 de abril de 1881). O que pesa contra esta explicação é o Caraça ter sido sempre citado no masculino e nunca no feminino (Serra da Caraça), como deveria ser já que caraça, compreendido como cara grande é palavra feminina. Já a segunda seria referenciando um grande desfiladeiro existente na Serra do Espinhaço nesta região: explicação dada por Auguste de Saint-Hilaire (1816) e acolhida por José Ferreira Carrato, em sua tese de doutorado sobre o Caraça (As Minas Gerais e os Primórdios do Caraça), publicada em 1963. Caraça, em tupi-guarani, significa desfiladeiro ou bocaina, como hoje é chamado o portentoso vale entre os Picos do Sol e do Inficionado. (PLANO DE MANEJO, 2013)


Vista de parte da Serra do Caraça, fotografia tirada a caminho da Cachoeira da Bocaina, no Santuário do Caraça - Caraça. Fotografia: Jessica Maia (2014).


A Serra do Caraça constitui um extenso conjunto orográfico, sendo o penúltimo contraforte da Cordilheira do Espinhaço, culminando em Ouro Branco, um pouco mais ao sul. Localizada na borda leste da província geológica do Quadrilátero Ferrífero, no estado de Minas Gerais, apresenta uma relação intrínseca entre seu clima e morfologia.


A criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Santuário do Caraça, em 1994, consolidou a proteção ambiental dessa região, reconhecendo sua importância ecológica e geológica. A RPPN abrange refúgios ecológicos montanhosos e altimontanos, com uma variedade de geoambientes locais, contribuindo para a preservação da biodiversidade e dos recursos naturais da Serra do Caraça.


Vista de parte da Serra do Caraça, fotografia tirada do topo do Pico dos Horizontes. Fotografia: Jessica Maia (2022).


A morfologia do relevo da Serra do Caraça pode ser descrita como um vale, com fundo relativamente plano e pouco ondulado, cortado pela bacia do ribeirão Caraça, de características sedimentares. Desníveis abruptos separam o fundo do vale das cristas circundantes, cuja altimetria atinge até 2072 m de altitude no Pico do Sol. Essa altimetria determina a amenização da tropicalidade do clima regional, atuando como uma barreira natural. (MOREIRA, 2013)




A área da Reserva apresenta uma constituição geológica diversificada, com seis grupos de rochas predominantes, sendo as formações da série Rio das Velhas as mais representativas. A primeira formação, ocupando a maior parte da área, é o Quartzito Cambotas, do grupo Tamanduá, representando as áreas mais altas do Caraça. Inclusive onde situa-se o Pico dos Horizontes. Este grupo é formado por quartzitos, areias quartzosas, xistos argilosos e itabiritos filíticos e dolomíticos, situando-se entre os grupos Maquiné e Caraça, em pacotes de mais de 600m de espessura.


A segunda formação, o grupo Maquiné, é encontrado na porção sudoeste da área. Caracteriza-se por ser constituído de conglomerados quartzosos, com intercalações de filito, xisto e clorito, geralmente resistentes à erosão. Na área da bacia do Felipe, esses quartzitos são cinza claro, com ocorrências sericíticas maciças e metamorfizadas nas escarpas mais elevadas.


A terceira formação é o grupo Nova Lima, que possui dois fácies: rochas ferruginosas e xistos não ferruginosos, mais antigos que o primeiro. Esses fácies cobrem o sopé da Serra do Caraça, com uma espessura que chega às proximidades do rio das Velhas, a 4000m. São rochas profundamente alteradas, apresentando tons avermelhados, rosados e purpúreos devido à presença de biotita e clorita.



Além dessas, existem rochas intrusivas básicas, especialmente diabásico e diorito, retalhando as áreas cobertas pelo grupo Tamanduá, sob a forma de diques e veios. Outros tipos de rochas incluem veios de xistos ferríferos e aluviões quaternários do baixo Vale do Ribeirão Caraça.


No que se refere aos movimentos tectônicos, a área é extremamente fragmentada, apresentando alguns belos exemplos de anticlinais e sinclinais, além de um grande número de falhas na Serra do Caraça.



Vista de parte da Serra do Caraça, fotografia tirada do topo do Pico dos Horizontes. Fotografia: Jessica Maia (2022).


As formas de relevo bem marcadas e pontiagudas, originadas de movimentos tectônicos e seguindo linhas de falhas, tornam-se mais arredondadas ao atingir as rochas metamórficas e o filito da série Minas, geralmente em altitudes abaixo de 900m.



Em relação aos recursos hídricos, a Serra do Caraça possui uma grande disponibilidade de água, com numerosas bacias intra-montanas e cursos d'água. A bacia do Ribeirão Caraça abrange uma área de 7.300ha, enquanto a do Córrego Capivarí tem 4.100ha. Essas bacias apresentam padrões de drenagem diversos, com cachoeiras e cursos de água, proporcionando uma paisagem rica em recursos hídricos.



História de Catas Altas


A formação do povoado que deu origem ao atual município começou a ocorrer no final do século XVII, por volta de 1694, com a descoberta de ricas minas auríferas mais tardes denominadas de Catas Altas.


Vista de Catas Altas em um parte alto a caminho do Pico - Caraça. Fotografia: Jessica Maia (2021).


O historiador Salomão de Vasconcelos afirma que quase nada se conhece a respeito dos verdadeiros descobridores da região onde está localizado o município e sobre a fundação de Catas Altas. Mas, em anotações, atribui-se a Domingos Borges a fundação do arraial em 1703.


A história de Catas Altas, assim como de diversas cidades mineiras, está relacionada com o ciclo da mineração no século XVIII. O nome “Catas Altas” provém das profundas escavações que se faziam no alto dos morros. A palavra “catas” significa garimpo, escavação mais ou menos profunda, conforme a natureza do terreno para a mineração.


No povoado, as catas, os garimpos, as minas mais ricas e produtivas, estavam situadas nas partes mais altas, isto é, se encontravam no alto da serra e por isso, a atual cidade ficou conhecida como Catas Altas. “O povo vendo que cada vez mais o ouro estava diminuindo nos leitos dos rios e córregos, e com abundância nas partes altas, diziam: ‘as catas estão altas’, ‘as catas estão ficando em lugares mais altos’, ‘as catas estão em lugares de mais difícil acesso’”.


Em 1712 ocorreu o primeiro registro de batismo em uma Capela de menor porte com invocação à Nossa Senhora da Conceição. Em 1729, teve início a construção da atual Igreja Matriz de mesma invocação, substituindo a antiga capela.


A Atual Igreja Matriz pertence à segunda fase do barroco e permanece com seu interior inacabado, possibilitando aos visitantes conhecerem as etapas de construção e sua policromia, tornando-se um dos mais importantes ícones da arquitetura e ornamentação do Brasil neste estilo.


Durante o ciclo da mineração, Catas Altas foi um dos mais ricos e populosos arraiais de Minas Gerais. Com o esgotamento das minas, o arraial ficou praticamente abandonado. Em 1868, chega a Catas Altas o Monsenhor Manuel Mendes Pereira de Vasconcelos para ser o vigário do arraial. Logo percebe o estado lastimável em que se encontrava o lugar, além do abatimento moral estampado nos rostos dos poucos moradores que ainda não haviam emigrado. O padre nota ainda a ausência de qualquer forma de cultura de subsistência. Milho, arroz, feijão, toucinho, tudo é provido pelos tropeiros.




Referências


HENRIQUES, Gilmar. Relatório de Prospecção Arqueológica: estrada de ligação entre a Mina do Pico e a Mina de Fábrica. Apresentado à 13ª SR. IPHAN. Belo Horizonte: MC Consultoria/Delphi, 2010. 90 p.


IBGE. Carta Topográfica: 16257. Catas Altas SF-23-X-B-I-1. Disponível em: https://portaldemapas.ibge.gov.br/portal.php#mapa16257.








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